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ESCRITOS
DE DEDEI
Evangelina
Falcão de Mendonça
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ESCRITOS DE DEDEI
Evangelina Maria Falcão de Mendonça
(1919-2002)
Filha de Claúdio Mendonça e Nair Pinheiro
Falcão, foi professora e diretora de escola na Tijuca.
Ministra da Eucaristia da Igreja de Santo Afonso na Tijuca.
SONETO PARA O DAVI
Estou chegando...
Vem ai mais um bebê,
Mais um neném vai chegar!
Será menino ou menina?
Só nos resta adivinhar...
Na "ultra"cruza as perninhas,
Vai ver estava encabulado...
Quem sabe? é um molequinho
Quer todo mundo intrigado.
Dentro em breve o "reizinho"
Estará em seu bercinho
Para ser admirado.
É do céu mais um presente
Recebido alegremente
Por todos já muito amado.
Dedei
Fevereiro/2002
Soneto escrito por Evangelina Maria Falcão de
Mendonça, Dedei, a tia-bisavó do Davi, dois meses
antes de seu nascimento, quando ainda a ultra-sonografia não
mostrava qual seria o sexo do bebê e também o nome
Davi "Rei" não havia sido escolhido.
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CRESCEI E
MULTIPLICAI-VOS!
- Ei, velhinho, quem é você ? Eu sou Davi.
- Mais respeito, pirralho. Sou Paulo Cláudio, o mais velho
da terceira camada do clã Mendonça.
- Clã ? Clã ? Espere: vou consultar meu
computador...
- Não precisa. Clã quer dizer tribo,
família. Sou seu primo, entre outros 61.
- Puxa vida! Tudo isto de gente? Vindo de onde?
- Os culpados foram Cláudio e Nair, que você
só conhece pelos retratos.
Eles se casaram, leram a Bíblia e tiveram 5 filhos, Mario,
Evangelina,Paulo, Irene e José, camada após
camada são quase 70 Mendonça... espalhados por
aí.
- E onde e como essa gente toda vive? Herança?
- Pois sim!!!Uns trabalham, outros estudam, outros apenas nascem como
você...
- Sabe, Paulo, que tal reunirmos toda essa gente?
- Onde? Só no Maracanazinho... e nem todos poderiam suportar
a despesa. Mas posso contar a você como são todos.
- Ótimo ! Assim poderei conhecer todos.
- Será uma história grande... em
capítulos, pois já há até
trinetos...
- Não faz mal. O Vô Cláudio
não gostava de contar histórias? Veja se
você pode imitá-lo.
- Como você pode calcular, à medida que os casais
foram se formando e multiplicando, a casa grande ficou pequena. E...
começou a espalhação...pela cidade,
pelo Brasil (Norte e Sul) e até pelo exterior.
Então, lá vai a história, vai em
capítulos.
Primeiro Capítulo
- Mario Cláudio é hoje o Patriarca do
Clã.
Teve:
. João Cláudio, pai de André
Cláudio e Martha (Mãe de João Victor e
Ana Thereza, levada como era o avô)
. Maria Lucia você conhece. É a sua avó
e além de teu pai deu-te um tio, Cláudio
José ( O Caladão)
. Claudinho ( o maior do clã) é pai de Carlos
Eduardo e de João Cláudio II ( que em pequeno
disse que o João Cláudio I tinha roubado seu
nome...)
. Mariozinho é artista e portanto desligado. Mas garanto que
um dia verão o grande artista que ele é... . .
. Beth tem Gabriel I, grande apreciador de siris e caranguejos...
. Clarisse filha de Rosamaria.
. Rosamaria e Marcinho ( filho de Mariozinho) apressaram-se e foram ao
encontro de Cláudio e Nair.
Segundo Capítulo
- Prepare-se: começa com um Paulo Ayres.
. Aí é que eu venho – embora tenha sido
o primeiro Mendoncinha a chegar,
como bom solteirão, criei gatos...
Depois vêm:
. Ana Maria tem Úrsula e um neto (Fernandinho - o
Desconhecido).
Como não vem ao Rio são quase desconhecidos.
. Vera veio depois e lotou Florianópolis. Sua primeira
filha, Cláudia,fê-la logo avó (com
Raquel - que empresta o Anjo da Guarda).
Vem depois Rogério (ator, modelo e caixeiro-viajante...)
Juliana tem só o Gabriel II... por enquanto.
Samanta usa filmes (faz fotos ) mas não é a
Sá Feiticeira.
Mas nossa turma continua:
. João Leôncio também é
avô (da Natália que é filha da
Patrícia) e é pai de dois gêmeos:
Luciano e João Luiz. Os dois, como o pai são
tão bons eletricistas que são
invisíveis.
. Marcus Afonso , pai de Débora, César e Ana
Bárbara que é capoeirista. . Paulo Ayres II,
médico no Amazonas, tem mais um Paulo Eduardo e Roberto
Ayres.
. Andraine presenteou-nos com uma japonesinha: Giulia.
. Bruno, que é a simpatia da família, vindo ao
Rio quer ver todos.
- Puxa! Pare um pouco para eu respirar!
- Pois ainda faltam 2 ramos de nossa árvore!
Terceiro Capítulo
- José Geraldo (por originalidade tem 2 filhos com o mesmo
nome)
. Primeiro veio Carmen Maria - dos sete instrumentos (que teve Alfredo
meio americano e meio brasileiro e Alessandra que fazem do primeiro
José um avô), José Geraldo II que teve
Julia (exemplo de força de vontade), João e Joana
(é a família do J) e Julio Cezar.
. Depois vêm Jose Geraldo III e Danielle.
Quarto Capítulo
- E a Irene ?
- Esta afrancesou-se: divide o ano entre Paris!!!e Fortaleza.
Tem uma filha Chris, médica, com três filhas
(Carol, Gabi e Rafa),
Jean Pierre I( pai de Jean Pierre II e o René) e Jacqueline
mãe
de Fernando e Rosana Christine encerram e capítulo.
- Obrigado, Paulo, sei que faço parte da mesma grande tribo!
- Viu? Não é mole ter uma família
assim...Todos do mesmo sangue!
Quinto Capítulo
Hoje contam-se nos dedos das mãos os herdeiros.
As famílias vão acabando. Não
há amor, união, tolerância,
compreensão...
Mas o SANGUE está aí. Ele nos torna ramos de um
mesmo tronco,firmado em raízes sólidas pelo
CRIADOR.
E é por este CLÃ que reza a Tia Solteirona.
Abençoe, Senhor, a nossa família!
Dedei
Evangelina Falcão de Mendonça
Junho/2002 |
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LEMBRANÇAS
QUE FICARAM
Que pena! Não se fazem mais famílias como
antigamente! Nos casarões, pais e filhos viviam em harmonia.
Todos se amavam e se ajudavam. Após os casamentos dos filhos
– tudo de acordo com o figurino –
começou a se anunciar a terceira
geração. Cada bebê anunciado era fonte
de alegria para todos.
Começava a confecção de casaquinhos,
cueiros, mantas, camisas de pagão e fraldas de pano, pois as
descartáveis ainda não haviam chegado...
O nascimento era uma festa. Todos queriam saber os detalhes:
é menino ou menina? É sadio, perfeito? Com quem
se parece? E a família ia ver o bebê no hospital e
isso era o assunto das conversas às
refeições, até o dia da chegada da
mãe e da criança. Estava já arrumado o
berço – Moisés do bebê,
enfeitado. A criança se transformava no rei da casa.
Assim, vieram aparecendo dois, três, quatro, sete, dez... A
família cresceu. O avô orgulhoso exibia seu
retrato rodeado de netos.
Quando já eram 4 ou 5, vinha o Natal. Não era uma
festa “mercantilizada” como a de hoje. Havia
compras, sim – mas cuidava-se também do
presépio, para lembrar o Aniversariante. E casa um gastava
dentro de suas posses; sem TV e os anúncios d'agora, todos
aceitavam alegremente viver como Deus permitia. Os adultos
já tinham feito suas compras; tudo estava escondido, e era
entregue à avó na véspera.
Na manhã de Natal, era grande a ansiedade. Os que
moravam na casa – mãe impacientavam-se aguardando
a chegada dos primos que moravam fora. Quando a turma toda estava
reunida, em fila por idade, avó abria a porta da sala de
visitas: a caverna de Ali-Babá. Todos procuravam seu
pé de sapato ali deixado na véspera – e
eram só exclamações de alegrias.
Como era bom e bonito! Cada um segurava os seus presentes enquanto o
avô, pachorrento, dobrava papeis e fitilhos coloridos.
Seguia-se o almoço festivo. Era um dia inteiro da
família reunida.
Os aniversários eram festejados na casa-mãe. A
sala era enorme e tudo era feito em casa: bolo, doces, salgados,
papéis de balas...
Depois havia sessões ininterruptas de cinema –
filmes e projetor hoje obsoletos. Mas a criançada vibrava.
As festas juninas eram outro motivo para reunir a família.
E, no carnaval, todos dançavam, cantavam e brincavam
até tarde. Para alguns amigos, a família foi
apelidada: Unidos da Conde Bonfim”.
Tudo foi terminando aos poucos, porque “não se
fazem mais famílias como antigamente”.
Paulo Cláudio foi o primeiro da terceira
geração. Primeiro filho, primeiro neto, primeiro
sobrinho. Como foi mimado! Bebê jamais adormeceu deitado no
“Moisés”. Todos queriam acalenta-lo,
nina-lo no colo. Até completar dois anos não
falava, embora pronunciasse todos os fonemas. Mas falar, pra que? Se
seus desejos eram adivinhados...
Aos quatro anos foi para o jardim de Infância. Foi e voltou
no mesmo dia. O fígado protestou e o menino só
voltou ao Jardim no ano seguinte.
JOÃO CLÁUDIO - Chegou pouco depois. Um
bebê em tecnicolor: cabelos louros, olhos azuis, pele branca
e ... rosto vermelho, quando no troninho. Levado! Tão levado
que a babá só levava à pracinha com
“arreio”.
ANA MARIA – foi a terceira a vir. Independente, geniosa,
apaixonada pelo avô. Se os pais queriam leva-la a passear aos
domingos, era uma tragédia: queria ficar com o avô
o dia inteiro. Quando saia à rua com ele, dizia para a
avó: “Se alguma moça falar com ele,
dou-lhe pontapés nas canelas”. Quando se separou
– foram morar em Curvelo-MG – ela e o avô
eram os que mais choravam na partida. E lá longe ela
escrevia cartas para o avô – cartas que
não enviava e que ela mesma respondia, pois ele
já se fora.
MARIA LUCIA – era gordinha. Tipo de holandesa. Olhos bem
azuis, bem clara. Maria Lúcia era pachorrenta.
Não tinha pressa. Quando ia às paradas militares
na cidade, quem lhe dava a mão já sabia: tinha
que esticar o braço e fazer força.
VERA MARIA – era a chorona. Ficava horas sentada na cadeira
alta, ao lado da geladeira na cozinha. Quando cresceu um pouco e era
contrariada jogava-se na cama cantando: “Um trevo no meu
jardim”. Não tinha muita memória
– mas foi persistente, e aperfeiçoou essa
faculdade de tal forma, que sabia o livro e a página em que
se encontrava determinado assunto.
CARMEM MARIA – era miudinha. Num carnaval, vestiram-na de
gatinho preto. Passou uma véspera de Natal na
casa-mãe. Foi uma noite de chorinho baixo: ela queria a
mãe... Quando se perguntava a ela o que queria comer, dizia:
“bacalau”.
ROSAMARIA – era agarrada com o pai. Só com ele
visitava a avó, de manhã, vestida de
“hominho” como ela dizia. Convidada para
almoçar, era taxativa: “Tada um tome na sua
tasa”.
JOSÉ GERALDO – adorava livros de figuras.
Folheava-os com a maior atenção. Era muito
observador. Certa vez, estando à janela com um priminho
– ele só tinha 4 anos – vendo que um
homem saltara do cavalo e começara a penteá-lo,
saiu-se com esta: “Pentear macaco, já vi. Pentear
‘cavaro’ nunca vi”.
CLÁUDIO – foi o neto (herdou o nome do
avô). Gordo, calmo, acho que até na hora de
nascer, pois veio grandão. Foi sempre bom. Quando recebia
dinheiro, deixava-o à vista, pois
“alguém podia precisar”.
JOÃO LEÔNCIO – embora com
audição prejudicada, era desde pequeno,
afinadíssimo. Certa vez, indo para Muriqui, perdeu o trem,
mas usou o engenho e foi chegar lá tarde, e o pessoal
já estava aflito.
JÚLIO CEZAR – pequenino ainda, dobrava as roupas
quando as trocava para dormir, mas as dobrava no chão. Certa
vez fugiu da sala (no Jardim de Infância) e foi parar na sala
de música no Instituto de Educação.
Escondeu-se atrás das cortinas empoeiradas e foi recuperado
a custo – com uma crise de asma.
MARCUS AFONSO – adorava filmes de índios. No
colégio, corria tanto após a aula, no terreno,
que era grande, que um par de calçado vulcabrás
só durava um mês. Gastava-se não
só na sola, mas na parte de cima! E as meias, todo dia
voltavam cheias da terra. Mais tarde, já no
ginásio “perdeu as calças”
jogando futebol. Felizmente estava de calção.
Colocara as calças na traseira de um carro no
estacionamento, e o professor dono do carro foi-se... com as preciosas
calças! Bem pequeno ainda, seus brinquedos preferidos eram
tampinhas de pasta de dentes, que arrumavam em fila, como trenzinho.
MARIO CLÁUDIO – Pouco participou da vida dos
avós. Mas era lindinho: parecia um bebê de
borracha. Uma travessura que marcou: com Marcus, mergulhava de cima do
armário duplex sobre a cama, e já se sabe, o
estrado se foi...
MARIA ELIZABETH – A avó queria uma neta com o nome
da rainha da Inglaterra, e conseguiu. Beth estava sempre arrumada,
parecia uma boneca saída da caixa. Crescida era afobada. Na
casa da avó, quando se sentava, parecia entrar pela parede
da casa da vizinha, o que provocava risadas sem fim. Como Christine,
era louca por comprar revistas no jornaleiro, sabe-se lá por
que?
MARIE CHRISTINE – esta já não pegou o
vovô e a casa-mãe já era um
apartamento. E, morando em São Paulo, longe, pouco
participava da vida dos outros. Mas estava junto da Beth, nas aulas de
inglês. E, morando no norte, se escandalizava com a falta de
vaidades das moças do Rio. Quando dormia no apartamento da
avó, era comum sumir durante a noite, para o quarto da Bina.
JEAN PIERRE – Crítico, calado, inteligente. Certa
vez, tendo a mãe desmaiado, viu todo mundo se aglomerando em
volta dela, e comentou: “parecem formigas em volta de uma
barata...”
E, numa sexta-feira Santa, ficou muito contristado porque o empurravam
na fila, e queixou-se: “Mãe não me
deixaram nem lamber o papai do céu”...
JACQUELINE – ao voltar de um passeio com uma das tias, sumiu!
Foi uma dificuldade recupera-la. Quando teimava, só obedecia
quando a tia começava a declamar a carta que iria escrever
para o pai; bastava a primeira frase: Querido Jean Claude, e ela logo
atendia. Foi daminha no casamento de Vera. Toda de veludo vermelho, com
um botão de rosa branco nas mãos, parecia uma
pintura.
Da criançada que foi aparecendo depois, mais de 20,
só ficaram as gracinhas de Rosane. Aos dois anos negou-se a
tomar o Nescau com a avó: “Você
está muito velhinha, vovó, e suja meu
vestido...”
E, aprendendo sobre os sentidos: “Para que servem os
olhos”? Para ver, respondeu. Foi certeira no uso do nariz e
da boca. Mas... e o ouvido? Foi rápida a resposta:
“Para por o aparelho”!, Bem a vovó
não ouve bem,e já está
“aparelhada”.
Certamente, os netos e bisnetos que vieram depois, também
fizeram suas gracinhas e artes, deixando também
lembranças... Mas... não mais se reuniram aos
demais, com aqueles laços tão fortes que faziam
com que todos se amassem, confortassem e se divertissem juntos. A vida
separou muitos, e muitos se separaram daquele primeiro
núcleo, porque...
Já não se fazem mais famílias como
antigamente...
DEDEI
Evangelina Falcão de Mendonça
Junho 2000 |
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